motor universal [ como se houvesse um ]

Quarta-feira, Abril 7


motor universal [ como se houvesse um ]



Localização espacial: mesa do PQ da federal

Localização temporal: tarde que se tornaria chuvosa, de abril.

Objetivo: trazer o capacete que estava encima da moto





Anunciação.

Várias, inúmeras delas.

Sucessivos avisos. Ignoro-os.

"The End Is Coming"

Permaneço.

Primeiras gotas,

a pele sente, não as absorve.

Estou aqui, inadulterável.

Irredutivelmente, estou. Sou!

Estou aqui,

Dilúvio! Mais uma vez: estou aqui,

me absorva integralmente!

Dilúvio, não é mais uma promessa,

fixo meu olhar em negras nuvens,

lágrimas de chuva?! [ poxa, não é nada de Paula Toller, seu rotulador pop!]

cinza, negro, vermelho... nada é tão mais transparente que essa gota,

tudo se evidencia, tudo se clareou com a escuridão,

Epifânias, sucessivas, em cascatas

"que mal fiz aos deuses todos", num grito surdo que ecoa...

sons que exalam medo, que fazem dançar galhos de árvores,

a rosa despedaçada em meu peito ressoa em minh'alma

fúnebre, acizentou-se ainda mais, se confundiu com a paisagem,

e eu, fiz cara de paisagem, fingi que nem estava ali, que a moto e todas

as suas implicações não me diriam respeito: nada mais justo.

Por que a as forças naturais haveriam te mostrar sua astúcia em meu pleno ócio.

preguiça, queria o status quo no caos, por mesquinharia, por egoísmo.

Ou não, queria a perversão, nada mais. Mas, eu... eu continuei ali sentada,

presenciando o mundo se afogar a cada lágrima de desaprovação e a cada espera

despretenciosa. Só estava. Ou melhor, só era. Não modificava. Não mudava nem

um músculo sequer de lugar, só esperava. só, esperava. Solidão desolava-me?! Não,

pois eu não era mais nem terreno fértil à novos encontros da vida. Tava tudo desencontradamente previsível. Sabia desde sempre que não iria tirar o capacete da chuva. A vida não passa de tentativas, mas, com cartas marcadas, aí é foda, mano.

A rosa, lembra-se ?! [ pensei em Janis Joplin, piece of my heart... mas, não, não coloquei.] Num simples olhar, me dilacerou, disformação, mas o todo ali estava, irredutível. A esperança não era o verde dos eucaliptos incrédulos que acenavam cada vez mais euforicamente pra mim, não, não era. definitivamente não. a esperança era vermelho-sangue. o sangue que me faltou, e que escorreu-me entre os dedos. que me faltou... eu não estava, eu era. eu não era eu. era?

dilúvio,

sangro,

Silêncio torrencial

mas, não me atormenta,

coloquei "the smiths" na mente,

o mp3 estava protegido de calamidades,

ele era parte do pecado, da infração, do "ainda não"...

[benditas ondas sonoras de carbono, aço e micro-fibras!]

[ até porque, estar sem capacete dirigindo e ainda com fone de ouvido ... ]

aiai, como essa vidinha me sufoocaa! talvez o ócio seja a solução, não?!

nunca será a causa de todos os males. malditos sejam os ditados populares, minha mente quase vazia é um estado nirvana que anseio como um condenado sedento por água no deserto mais árido! não, não... não é nada disso... nada desértico, nada lembra isso aqui. Nirvana?! Minha juventude, tava tudo tão confusamente cinza, recordações e o presente nebuloso. Mas, consegui colocar "november rain". mas... não era abril?! não fazia sentido, nada fazia, nunca fez. Mas, por que julgamos tão essencial nos presentiarmos com uma pretensa comodidade do "dar um rumo à vida" e que seja, preferencialmente com uma seta em linha reta (poque as linhas retas são mais práticas, chegam primeiro. metas. objetivos.escadas que conhecem só a ida. linhas retas. vidas em linhas retas, que possuem um campo magnético capaz de repulsar outras tantas outras linhas, que apesar de correrem paralelas à essa, por essa repulsa "racional" não vão se cruzar, no máximo, terão um ponto em comum, num espaço irresólio de tempo. uma faísca, produz algo. mas não as entortam. não saem de "seus destinos", serem retas. Qualquer esforço no rumo contrário seria o mesmo despêndio de energia em fúria ao se tentar, todos os dias, quando se olha a frente, tentar com todas as forças possíveis e imagináveis, endireitar a linha curva do horizonte, diante de seus olhos. tão longe à nossa vontade. Mas, talvez não seja de fúria perante ao incontornável que se trate. E se, com um suave toque, tudo se tornasse a nossa vontade. luas e sóis quadrados, linha do horizonte esticada, gotas de chumbo... não, não quero o mundo a minha imagem e semelhança, não quero reflexos, só reflexões. sem pretensão alguma, só com a pretensão de ser despretencioso. pensei em Oscar Nieymaier. o da minha juventude, o comunista que me motivava a ler Karl Marx e a brincar de lego (pra também ser arquiteta, e, sobretudo, comunista) porém minha inabilidade no lidar com números, me tornou ... me tornou... o que sou. o que sou? Bom, acabei de sair de uma aula de etnologia. Sim, gosto. entrei com ânsia de mudar o mundo. utopias que se esvairam entre ponderações e relativismos... Enfim, pensei em Niemayer porque ele dizia uma frase de efeito 'não são as retas que me atraem, e sim as curvas da..." (não me lembro do resto, mas é bem interessante...) Por falar nisso, os prédios da federal são arquitetados por anti-niemayers. E, isso que digo, sejamos anti! não aquela pessoa insuportável, ranzinza e chata "do contra", mas sim ouçar pensar totalmente o contrário das suas convicções já cimentadas pelo comodismo. é isso, só pra incomodar mesmo. a vida incomoda... é, sem dúvida todos seus "mistérios" me incomodam... lanço um olhar incrédulo para os céus "você sabe meus segredos, mas você parece tão misteriosamente revelado pra mim, não consigo adentrar em todas suas nuances: por que, você, óh, forças de magnitude imensuráveis diante de tantas divagações estúpidas e egoístas" Talvez estivesse se zangado, e só por isso o sol se intimidou, se retirou. em cena, no palco dos horrores, uma chuva fdp que molhou meu capacete, nada mais que isso. uma oportunidade?! a perdi ou está apenas começando?! Turbilhão de pensamentos, teorias, paradigmas, idéias, conversas rememoradas, dialógos "acadêmicos", discussões premeditadas, ... ; a ordem está no caos.

meu caro, eu só não quis pegar o capacete, não o salvei, preferi me salvar. será?!

Sangro,

Silêncio torrencial.



[ preguiça de terminar de escrever, a mesma que me motivou a deixar o capacete molhar, tudo isto acima foi uma tentativa de justificar a minha inércia perante os fatos. ou um pretexto pra que eu não o usasse. ]